segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Reunião do Grupo - 10/11/2020

Reunião do Grupo de Pesquisa - 10 de novembro de 2020

Presentes:

  1. Prof. Carlos Quandt
  2. Norma Brambilla
  3. Clarissa Rocha
  4. Matheus Hamerschmidt
  5. Marlon Liebel
  6. Daniel Ferreira dos Santos
  7. Paula Minetto
  8. Antônio Carlos Franco
  9. Mariana Alves
  10. Daniel Valotto

Ausências justificadas: Prof. Ubiratã Tortato, Marcelo Castilho

Prof. Quandt inicia explicando a programação da reunião, com sua apresentação feita em live da PUCPR para encerramento do projeto empreendedorismo social e inovação social, seguido de apresentação da Mariana e continuidade dos debates do Grupo de Pesquisa.

Convida para as seguintes Defesas de Tese: (i) 19/11, 9h00, Clarissa Rocha, tese "Práticas colaborativas para a transformação digital: Um estudo multi-caso entre Brasil e Reino Unido no contexto da Indústria 4.0” e (ii) 27/11, 9h00, Enrico Gianotti, tese “Impacto das capacidades dinâmicas de IoT na capacidade inovativa e no desempenho financeiro”.

Prof. Quandt inicia sua apresentação feita para o SE-HUB – Desafios atuais do empreendedorismo social e inovação social no Brasil, voltado à criação de recursos para apoiar jovens empreendedores sociais. Explica que o SE-HUB fornece treinamento direcionado e ferramentas de aprendizado para jovens em geral e jovens trabalhadores interessados em empreendedorismo social e uma carreira no Setor Cidadão. Explica que sua palestra, sobre desafios do empreendedorismo social, foi seguida de outras duas que falaram sobre as oportunidades do empreendedorismo social, frente aos desafios apresentados por ele. Cita o historiador britânico Arnold Toynbee, criador de uma teoria sobre o crescimento e morte de civilizações, que acredita que a sociedade se desenvolve em uma civilização quando é confrontada com um desafio que ela enfrenta com sucesso de forma a levá-la a outros desafios. Desta forma a sociedade/civilização cresce e se desenvolve.

Prof. Quandt apresenta os tópicos que serão abordados em sua apresentação: (i) desenvolvimento econômico, produtividade, trabalho e renda, (ii) como está a vida? – medindo o bem-estar – OCDE 2020, (iii) desafios por ODS – relatório do desenvolvimento sustentável 2020 e (iv) mais desafios: ODS e COVID-19.

Expõe a evolução do PIB Brasil, comentando sobre a nova década perdida (2010-2020), em que houve alternância entre resultados positivos e negativos, destacando os resultados do 1º e 2º trimestres de 2020, quedas de 2,5% e 9,7% respectivamente, e lembrando que o último resultado positivo significativo foi o de 2010. Comenta ainda que o resultado desta década é ainda pior do que aquele registrado na década de 1980, também considerada uma década perdida.

Os resultados sobre a produtividade do trabalho, medida em US$/horas trabalhadas por ano, apresentam a estagnação do Brasil ao longo dos últimos 20 anos, conforme Figura 1. Prof. Quandt chama a atenção para a comparação com outros países do gráfico – EUA, Japão, Taiwan, Hong Kong e Coreia do Sul – que tiveram desempenhos bastante superiores ao do Brasil. Hoje, a produtividade de um trabalhador brasileiro é de aproximadamente 20% daquela do trabalhador norte-americano. Destaca, ainda, que o desempenho medíocre do Brasil neste indicador é recorrente desde a década de 1980. O país com menor crescimento dos elencados foi o Japão, mas partindo de um patamar quatro vezes acima do brasileiro. A partir desta análise, mais do que a tendência, chama a atenção o fato de que os demais países obtiveram crescimentos superiores ao do Brasil em produtividade do trabalho mesmo partindo de valores superiores. No caso da Coreia do Sul, que em 1980 tinha produtividade semelhante à do Brasil, o crescimento foi comparativamente ainda mais expressivo.

Figura 1 – Evolução da produtividade do trabalho – 2000 a 2020 – países selecionados


Para compreendermos o crescimento tímido do Brasil, o Prof. Quandt apresenta os dados abertos em grandes setores. Verifica-se que o crescimento da produtividade foi sustentado pelo setor agropecuário, com pequeno crescimento no setor de serviços e queda no setor industrial. Ainda na análise do cenário econômico, foram apresentados os números da taxa de desocupação, que alcançou 13,1% da população economicamente ativa - PEC, maior índice desde 2012. A tendência de alta começou a partir da crise de 2015. Além disso, a subutilização atingiu 30,1%, os desalentados somam 5,7% e os trabalhadores informais chegam a 37,4%, sempre se tomando por base a PEC. Ressalta ainda as disparidades existentes internamente, pois, no Brasil, são mais afetadas mulheres do que homens, negros e pardos do que brancos, menos instruídos do que mais instruídos. Em suma, o desemprego atinge mais fortemente os mais vulneráveis.

Prof. Quandt comenta que o Brasil não seguiu a lógica em que o aumento do grau de escolaridade implicaria aumento da produtividade. Embora este fato seja observado na maioria dos países, o fenômeno brasileiro pode estar vinculado ao fato de que passar mais tempo na escola não reflita necessariamente aprendizagem por parte dos alunos, o que evidenciaria uma baixa qualidade da educação disponibilizada à população, visto que os anos a mais de escola não influenciaram a produtividade no trabalho como esperado.

Prof. Quandt apresenta onze indicadores calculados para os países membros da OCDE e quatro convidados, entre eles o Brasil, conforme Figura 2.

Figura 2 – Indicadores de bem-estar da OCDE


As flechas vermelhas apontam indicadores em que o Brasil se saiu muito mal: (i) renda, (ii) segurança e (iii) escolaridade, normalmente medido no Brasil como “educação”. Sobre os dois últimos, o Prof. Quandt aprofunda um pouco a análise, trazendo exemplos de medidas que influenciam decisivamente a posição do Brasil no comparativo. No caso da escolaridade/educação, os resultados do PISA do Brasil são comparáveis aos da Colômbia e pouco inferiores aos do México, dentre os países membros da OCDE. Tal resultado reforça a inferência feita anteriormente sobre a qualidade da educação no Brasil, pois o teste PISA é feito exatamente com o objetivo de verificar a capacidade dos alunos de determinada série em resolverem problemas de leitura, matemática e ciências. No caso da segurança, o indicador escolhido pelo Prof. Quandt foi a taxa de homicídios, novamente próxima dos mesmos países membros da OCDE já mencionados. Contudo, enquanto se observa uma grande melhoria no caso da Colômbia, que nos anos recentes negociou com sucesso o fim das FARC – Forças Revolucionárias Armadas da Colômbia, o Brasil apresentou um leve aumento desta taxa. As comparações apresentadas retratam o período 2010-2019.

Prof. Quandt passa a abordar os desafios dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS. Um resumo da situação do Brasil pode ser obtida pela análise da Figura 3.

Figura 3 – Resumo do resultado do Brasil em relação aos ODS


A interpretação deve ser feita pelas cores, que refletem o tamanho dos desafios: (i) vermelho, grande desafio, (ii) laranja, desafio significativo (iii) amarelo, ainda restam desafios e (iv) verde, objetivo apresenta bons resultados – no caso do Brasil, apenas o desafio de energia limpa e acessível se enquadra nesta avaliação, pelas condições favoráveis que o Brasil tem para geração de energia hidrelétrica. As setas mostram uma avaliação do progresso que o país está realizando para o respectivo ODS, a seta verde para cima representa progresso significativo, a seta amarela em diagonal representa algum progresso, a seta horizontal laranja indica estagnação do ODS e o ponto cinza informa a falta de dados para o ODS.

Prof. Quandt destaca os principais desafios para o Brasil: 3. Saúde e bem-estar, 8. Trabalho decente e desenvolvimento econômico, 10. Redução das desigualdades e 16. Paz, justiça e instituições eficazes. A Figura 4 traz um resumo do desempenho do Brasil em cada um dos ODS.

Figura 4 – Síntese do desempenho do Brasil em relação aos ODS


Passando à última parte de sua apresentação, Prof. Quandt passa a falar sobre a influência da COVID-19 sobre os ODS. A Figura 5 apresenta os impactos que a COVID-19 trouxe para cada um dos ODS. A seta vermelha para baixo representa um impacto severo, a seta amarela em diagonal representa um impacto significativo/moderado e os pontos cinzas informam que os impactos para aquele ODS ainda não estão claros. Os objetivos mais afetados são: 1. Erradicação da pobreza, 2. Fome zero e agricultura sustentável, 3. Saúde e bem-estar, 8. Trabalho decente e crescimento econômico e 10. Redução de desigualdades. A partir deste panorama, Prof. Quandt discorre sobre os impactos da COVID-19 sobre cada um dos ODS, sendo a maioria negativos, com raras exceções.

Figura 5 – Impactos de curto prazo da COVID-19 sobre os ODS


Prof. Quandt encerra sua apresentação e abre para perguntas. Marlon questiona se os impactos da pandemia se fazem sentir nas pesquisas de inovação e gestão de conhecimento. Prof. Quandt explica que houve a redução do fomento por parte dos governos, como reflexo do aumento do déficit público, mas do ponto de vista acadêmico a troca de informações manteve-se inalterada, mesmo porque as reuniões e encontros já se davam de forma não presencial.

Prof. Quandt passa a palavra para Mariana, que comenta que no evento em que o Prof. Quandt participou foram apresentados três parceiros para busca de mais informações sobre os impactos da COVID-19: (i) Aliança pelo Impacto (ii) Empowering Change Makers e (iii) ICE.org.br.

Mariana explica que escolheu dois artigos apresentados no Simpósio Internacional de Gestão de Projetos, Inovação e Sustentabilidade – SINGEP 2020, que julgou serem mais próximos aos assuntos debatidos no Grupo de Pesquisa. Inicia sua apresentação comentando o artigo “A indústria 4.0 no setor público de países emergentes: avaliação de um estado brasileiro”, de Souza et al., 2020. A pergunta de pesquisa foi: o setor público está inerte às inovações proporcionadas pela indústria 4.0? A Figura 1 do artigo, reproduzida a seguir, traz o resultado obtido na pesquisa, demonstrando que o setor público, a partir das instituições pesquisadas – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo - IFES, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES, Secretaria de Estado da Fazenda do Espírito Santo – SEFAZ/ES e Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo – TCE/ES – não está inerte a tais inovações. A Figura 6 foi desenvolvida pelos autores para resumir os resultados obtidos na pesquisa.

Figura 6 – Itens da indústria 4.0 atendidos pelas instituições avaliadas


Fonte: Souza et al., 2020.

O segundo artigo escolhido, segundo Mariana, é mais completo e trouxe mais detalhes sobre a pesquisa realizada. O título é “Capacidade de inovação: um estudo em micro e pequenas empresas prestadoras de serviços”, de Freitas et al. Mariana destacou algumas das perguntas realizadas e os resultados obtidos.

Do elemento Aprendizagem, Mariana destacou a variável “Ideias malsucedidas são utilizadas na nossa empresa como uma oportunidade para a continuação do aprendizado.”, que obteve média de 3,7 em uma escala de Likert de 5 pontos, demonstrando a concordância dos entrevistados com a afirmação. Mariana lembra que tal assunto já foi discutido no Grupo de Pesquisa, quando se debateu eventuais punições pela falha, ainda que buscando a inovação.

Ao analisar o elemento Cultura, Mariana destacou as variáveis “Nossos empregados são frequentemente incentivados a sugerirem novas ideias para produtos e processos.”, com média de 3,85 e “A empresa possui uma cultura que permite que todos corram riscos e cometam erros na busca por soluções.”, com média de 2,71. Enquanto os entrevistados concordam que os empregados são incentivados a sugerirem ideias inovadoras, a média de 2,71 obtida na variável que discute se a empresa permite que todos corram riscos e cometam erros é contraditória à variável anterior – a menos que o incentivo se limite a oferecer ideias, sem autonomia para implantá-las, e também ao resultado do elemento Aprendizagem, explorado no parágrafo anterior.

Em relação ao elemento Mercado, a variável destacada por Mariana foi “Nossa empresa possui proficiência nas habilidades de marketing necessárias para executar uma iniciativa de lançamento de novos produtos (bens ou serviços).”, com média 3,57. Mariana acredita que a pergunta deveria ser simples de um gestor responder, mas explica que em muitos casos não há formalização destas habilidades. Para o elemento Pessoas a variável destacada por Mariana foi “As pessoas frequentemente se reúnem para discutir novas ideias.”, com média de 3,85, Mariana destaca que em algumas empresas os pesquisadores identificaram que havia um momento formal para troca de ideias, enquanto em outras empresas isso pode ser feito em conversas de corredor ou no momento do cafezinho. Com isso, conclui sua apresentação.

Prof. Quandt agradece a Mariana o trabalho feito, e comenta que causa alguma estranheza o fato de o primeiro artigo relacionar indústria 4.0 com setor público, considerando que os conceitos foram desenvolvidos para atividades industriais. Destaca também a posição que os órgãos públicos têm de guardiães dos dados da população, em especial face à LGPD – Lei Geral de Proteção aos Dados. Fala de sua experiência como avaliador do MEC, que precisa entregar cópia do cartão de embarque para comprovar sua viagem, mas essa obrigação está prevista em determinada legislação, e os órgãos públicos precisam seguir as leis – exemplo dado para explicar a necessidade de alguns órgãos de legalmente não abrirem seus dados a pesquisas.

Paula pergunta se há alguma pesquisa sobre empresas do Sistema B - movimento que identifica empresas que utilizem seu poder de mercado para solucionar algum tema social e ambiental. Prof. Quandt recomenda que ela entre em contato com o Prof. Tortato, que deve ter mais informações sobre esse assunto, e sugere que a Paula lidere um estudo nessa linha.

Quanto ao segundo artigo, que tratou de capacidade de inovação, Prof. Quandt comenta que há estudos sobre o assunto, bem como sobre a prontidão para inovação das empresas, e que o próximo passo é estudar a prontidão para inovação dentro do contexto da transformação digital. Fala da preocupação acerca da capacidade das empresas brasileiras de se mostrarem aptas a este desafio.

Sugestão de pauta para próxima reunião, em 24/11: (i) assuntos trazidos pelos Professores Orientadores do Grupo de Pesquisa, (ii) apresentação da Clarissa sobre sua defesa de Tese - feedback recebido e dicas para os colegas, (iii) fechamento e balanço das atividades do Grupo de Pesquisa no exercício 2020 e (iv) planejamento das atividades 2021.

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